Unesco prega investimento na qualificação de jovens
Para que haja crescimento econômico, os países pobres e em
desenvolvimento precisam investir na qualificação dos jovens. E isso não
significa inseri-los no ensino superior. É preciso oferecer caminhos
alternativos para que essa população adquira noções básicas de leitura,
escrita, conhecimentos matemáticos e, consequentemente, oportunidade de
emprego.
Só nos países em desenvolvimento, 200 milhões de pessoas com idade entre
15 e 24 anos não completaram o ensino fundamental. Dos que estão empregados,
mais de um quarto recebe menos de US$ 1,25 por dia, o que os faz viver abaixo
da linha da pobreza.
Os números são do 10.º Relatório de Monitoramento Global de Educação
para Todos, que será lançado nesta terça-feira pela Unesco. O documento mostra
a evolução dos objetivos da Educação para Todos, que preveem, entre outras
metas, programas de aprendizagem de competências para os jovens e redução dos níveis
de analfabetismo dos adultos.
"Em muitos países, a oferta de uma educação de qualidade a todos,
que forneça as habilidades necessárias para o mercado, ainda é um sonho
distante. Enquanto o mercado de trabalho exige competências, a grande maioria dos alunos sai da educação básica estando longe
de ter todas as competências básicas adquiridas", afirma Ernesto Martins
Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann.
Se for considerada apenas a região compreendida pela América Latina e
pelo Caribe, o relatório mostra que 25% dos habitantes vivem em favelas e a
população jovem - que já corresponde a 50% dos cidadãos e continua crescendo -
segue sem o direito à educação assegurado.
"Quando olhamos os países da América Latina em avaliações externas
como o Pisa (que mede o desempenho de jovens de 15 anos em português,
matemática e ciência), por exemplo, não estamos verificando problemas que
impactam apenas o progresso profissional, até porque boa parte das competências
necessárias não é avaliada nesse tipo de instrumento. Estamos, na verdade,
discutindo a importância do direito a um aprendizado que garanta a todos
oportunidades semelhantes", completa Faria. O relatório calcula que são
necessários US$ 16 bilhões para universalizar a educação fundamental e outros
US$ 8 bilhões para garantir acesso ao ensino médio.
Sinais
Para a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero, os
dados mostram que, apesar de o País ter avançado na oferta do ensino
fundamental, é preciso garantir qualidade. "Se o aluno não consegue
entender o que lê, não faz um ensino médio ou profissionalizante satisfatório
e, logo, não fica preparado para o mercado."
Um despreparo que tem sido refletido nos altos índices de evasão - cerca
de 50% dos matriculados abandonam a escola antes de terminar o ensino médio - e
na taxa de desemprego que atinge um em cada cinco jovens.
Para mudar esse cenário, avalia Rebeca, é preciso investir em
infraestrutura, gestão de qualidade e formação de professores. O relatório
sugere que os currículos do ensino médio sejam equilibrados entre habilidades
técnicas e vocacionais e que contemplem as chamadas habilidades transferíveis,
como confiança e comunicação, requisitadas pelo mercado. Além disso, recomenda
que as ações deem prioridade aos desfavorecidos, principalmente às mulheres e
aos pobres em zonas rurais.
O investimento vale a pena. O relatório estima que cada dólar gasto com
a educação de uma pessoa gera US$ 10 a US$ 15 em crescimento econômico ao longo
do tempo de trabalho dela. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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